icente pinta com a alma. Essa é a arte dele. São de três a quatro quadros por dia. Vem tudo da imaginação. Pequenos gestos e nota 10 no quesito criatividade. Seus dias são praticamente iguais no quarto em que divide com seu Durvalino Aguiar. Acorda cedo, toma café, almoça e janta. Faz fisioterapia alguns dias da semana e informática todas as segundas. Participa diariamente das aulas de alfabetização. Lembra novamente das aulas. Está gostando. Agora ele lê. Escreve. Mas a falta da família o faz ficar mudo. Sem visitas. Sem nenhum vínculo com o resto da família, que ficou perdida no mundo. Sua vida agora é ali. Evangélico, uma vez por mês, Vicente participa dos cultos.
Seu Durvalino Aguiar, ex saqueiro me recebe com um cigarro de fumo e logo percebo que ele não é muito de falar e nem de trocar confidências com Vicente. Está sentado de frente para o jardim em um dos bancos do pátio. Seu Durvalino,72 anos, é um dos moradores mais antigos. São 20 anos ali dentro. Assim como Vicente, não tem pai nem mãe, e as visitas dos filhos são breves e demoram muito a acontecer. Eles dividem o quarto com que tem duas camas, duas cômodas e uma janela que dá para o pátio ensolarado e para o jardim, que Seu Aguiar rega todos os dias. Na gaveta, Vicente tira o álbum de fotos, que ganhou após a exposição. Guarda-o como se fosse um troféu. Lembra que foi um dos dias mais importantes de toda a sua vida e recorda de todos que estavam presentes. Reconhece a ajuda que ganhou para que a exposição virasse realidade.
Vicente espera que agora seus sonhos se concretizem. O ateliê. A próxima exposição. O carinho de todos. A ajuda. O reconhecimento. Não pretende sair dali. Só quando Deus vier buscá-lo. Não há vida melhor do que no asilo.
Naquela tarde, levei uma tela até ele e com um sorriso no rosto, ele disse que retrataria o mundo dele para mim. Prometi que mostraria o meu mundo a ele - onde nem tudo é imaginação, mas que com certeza ficaria melhor com um toque de sensibilidade e sonhos que se tornam possíveis com alguma criatividade.
‘Vivendo’ (90 pag., Ed. Raízes) foi escrito como TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) de Jornalismo, na Universidade de Marília (SP).
Fotos: Caroline Mussato / Portal Terceira Idade / divulgação
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